Janis Joplin - Mãe do Blues e tia do Rock’N’Roll
Luiz Michelin Junior/colaborador [06/02/2007]
Antes de Janis Joplin (foto), nenhuma outra cantora branca ousara cantar o Blues negro como ela cantava. Já aos 15 anos sua voz explodia em gritos e uivos, urros e gemidos, arrojando tudo o que existia de insolúvel em sua vida.
“Comecei a cantar imitando Bessie Smith”, ela costumava dizer. “Copiava mesmo, mas não tinha essa intenção. Quando cantei pela primeira vez, já saiu assim. Eu queria ser uma pessoa comum, uma pessoa da rua, uma pessoa qualquer. Blues é querer uma coisa que você não tem. É um desabafo: eu sofro, eu estou ferida. Eu choro gritando. Por que nenhum homem que eu amo gosta de mim? É por isso que eu canto Blues. Porque o Blues é a eterna canção da mulher sozinha, iludida, enganada, esperando...”, dizia Janis.
Janis não era apenas uma criatura desajustada. Sua morte tem muito a ver com a de outras cantoras famosas (Bessie Smith (foto), Billie Holiday, Judy Garland, Elis Regina – para citar apenas quatro) que ousaram desafiar um sistema absurdamente repressor e machista. Ela vivia em combustão, como uma tocha destinada a brilhar fortemente durante pouco tempo e extinguir-se. Mas seu legado será sempre imortal!
Há muito tempo meus amigos e muitos leitores da Rock Around The Clock me cobram, para que eu faça um especial sobre a Janis. Na minha opinião, a melhor voz feminina de toda história do Blues e do Rock. Portanto, a coluna dessa semana traz até você a história completa dessa lenda chamada Janis Joplin:
A INFÂNCIA NO TEXAS
O dia era 19 de janeiro de 1943, numa manhã de muito frio em Port Arthur no Texas, EUA, no hospital Saint Mary, apartamento 104, às 09h45, nascia a mulher que iria mudar a história do Blues e do Rock para sempre neste planeta!
Janis Lyn Joplin (foto) , filha de Serethy Joplin e Dorothy Lyn Joplin nasceu de uma sólida família de classe média. Ela poderia ter sido apenas um “bicho grilo” em sua cidadezinha onde todos odiavam os beatniks, mesmo sem saber o que eram, ou ter tomado um rumo mais ortodoxo e se formado em Sociologia na Lamar State College of Technology, mas Janis preferiu ser a cantora branca de voz negra que marcou para sempre a história do Blues e do Rock com um sucesso meteórico que durou cerca de três anos - enquanto viva - e um verdadeiro culto ao seu modo de cantar que já dura mais de três décadas.
Ela foi eleita “o garoto mais feio do colégio”. Desde mocinha, enfiava o pé na jaca com convicção: uísque, anfetaminas, ácido, tabaco, vodca, cocaína, metadona, heroína e biscoito com marmelada (como você vai descobrir logo adiante). O único namorado fixo que teve morreu no Vietnã. Ela arrancava as roupas no palco e costumava reclamar que, depois de “fazer amor” com milhares de pessoas num show, voltava para seu quarto e dormia sozinha.
Ela sempre foi uma jovem muito solitária, que logo tomou gosto pelo Blues e a Folk Music, retratando isso em pinturas e poesias. Aos 17 anos, ela saiu de casa.
Aos 20 anos, trilhando os caminhos da Folk Music, Janis já está envolvida com drogas, pequenos furtos e brigas de ruas. Sua alma atormentada pedia algo mais do que os festivais folclóricos.
CANTANDO BLUES E FOLK
Em 1965, ela já estava cantando Blues e Folk em bares de San Francisco e Venice, na Califórnia, nesse período, ela tinha perdido seus colegas e estava desempregada. Janis voltou para Austin em 1966, para cantar numa banda Country, mas, em poucos meses um amigo dela, o empresário da Chet Helms, apresentou-a a uma outra banda de San Francisco, a “Big Brother”, que estava precisando de uma cantora.
Foi por volta de 1966 que tornou-se vocalista da “Big Brother And The Holding Company” (foto), formada por Sam Andrew e James Gurley comandando as guitarras, Pete Albin no baixo e David Getz na bateria. A banda assinou um contrato com a Mainstream Records.
O blues era perfeito para isso e quando Travis Rivers foi buscá-la para ir a São Francisco juntar-se a Big Brother And The Holding Company, em maio de 1966, Janis viu a chance de sair de seu pequeno mundo e fazer fama.
Então, ela voltou à Califórnia e juntou-se à essa nova banda. Janis Joplin e Big Brother deram um show em 1967, no Monterey Pop Festival; então Albert Grossman (foto) se propôs a empresariá-los. Janis Joplin começou a tornar-se uma superstar.
JANIS TORNA-SE UMA SUPERSTAR
Joplin viajava constantemente e sempre participava de programas de televisão como convidada de apresentadores, como Dick Cavett (foto), Tom Jones e Ed Sullivan.
Janis Joplin foi considerada a principal cantora branca de blues dos anos 60, e certamente uma das maiores estrelas daquela época. Mesmo antes de sua morte, a forte imagem de mãe do blues só serviu para camuflar sua vulnerabilidade.
A publicidade, que trouxe à tona sua vida sexual e seus problemas com álcool e drogas, conseguiu torná-la, de certa forma, uma lenda.
Para muitos, Janis Joplin (foto) é apenas um nome na lista dos chamados “mortos honoráveis do Rock” e também da pequena lista dos imortais dos anos 60, - Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin - os famosos três “J ” que fizeram sucesso com a mistura de Blues e Rock e que morreram todos muito jovens, de overdose e com 27 anos. Em muitas biografias, seu estilo de vida é colocado como mais importante que sua música. Mas não é bem assim. O blues jamais seria o mesmo depois do aparecimento de Janis, até pelo fato de chamar atenção da classe média branca americana para esse estilo.
O FESTIVAL POP DE MONTEREY
No festival de Monterey de 1967 a atuação de Janis Joplin (foto) contagiou a platéia, principalmente por sua versão de “Summertime”. Além do enorme sucesso, essa apresentação rendeu ainda a entrada numa gravadora maior, a Columbia Records. Sem dúvida essa apresentação foi a mais importante em sua carreira.
A crítica também ficou impressionada com aquela voz rouca e a performance sensual da moça, que cantava blues como nenhuma cantora branca havia feito até então. No ano seguinte a banda lançou o álbum “Cheap Thrills”, que foi um recorde de vendas.
O PRIMEIRO DISCO
O lançamento de seu disco de estréia o “Big Brother And The Holding Company” (foto), em agosto de 1968, foi um sucesso que vendeu mais de um milhão de cópias no primeiro mês. “Summertime” e “Ball and Chain”, duas de suas mais emblemáticas interpretações, podem ser encontradas nele.
A rapidez com que ficou famosa talvez tenha sido um tanto violenta para uma personalidade tão instável. Janis passava da euforia ao desespero, bebia demais e usava heroína. Chegou a ser processada por dizer palavrões em um de seus shows.
O SEGUNDO DISCO – AUMENTTA O SUCESSO
Após um grande sucesso do primeiro LP com o “Big Brother”, a Columbia assinou um contrato, e, o álbum Cheap Thrills (foto), com o single “Piece of My Heart” (1968), conquistou o disco de ouro. Passado um ano, Joplin começou a se ofuscar na banda, então ela resolveu deixar a Big Brother (mesmo tendo participado de algumas faixas do álbum “Be A Brother”, de 1971), para seguir sua carreira com o guitarrista Sam Andrew, formando a banda “Kozmic Blues” (foto).
Assim surgia “I Got Dem Ol’Kozmic Blues Again Mama!” (1969) (foto). Foi lançado, com várias faixas de Blues-Rock, assim como “Try (Just a Little Bit Harder)”. Durante este período, Joplin começou a se envolver demais com álcool e drogas, tornando-se uma viciada em heroína.
Em janeiro de 1970 a banda se dissolveu. Ela resolveu se casar e estava entusiasmada com a banda “Full Tilt Boogie” (foto), que ela tinha formado para produzir o álbum “Pearl” (Pearl era o apelido de Janis, que em português significa Pérola), viria na companhia de uma terceira banda, a “Full Tilt Boogie”. No dia 3 de outubro de 1970, Janis ouve a base instrumental de “Buried Alive In The Blues”, última música programada para seu terceiro álbum. Ela planeja gravar os vocais no dia seguinte.
A MORTE TRÁGICA DE JANIS JOPLIN
À 1h40 da manhã do dia 4 de outubro, com 27 anos, o corpo de Janis Joplin (foto) foi encontrado num quarto do Landmark Hotel, em Los Angeles, com picadas de agulha recentes no braço. Ela havia morrido sozinha em seu quarto, por overdose de álcool e heroína. A causa de sua morte foi dada como overdose acidental de heroína.
O LP póstumo Pearl (1971) homenageou-a com a canção “Me and Bobby McGee” de seu amado Kris Kristofferson, e foi lançado com a faixa “Buried Alive in The Blues” sem o vocal de Joplin, que morreu antes de fazê-lo. Várias coletâneas póstumas foram lançadas, assim como o documentário Janis, de 1974.
O filme The Rose, de 1979, estrelado por Bette Midler, foi um relato levemente disfarçado da carreira de Janis Joplin. Ela também tem sido tema de várias biografias, incluindo “Love Janis” (foto), escrita por sua psico-terapeuta e irmã Laura.
Em 2003, ano em que Janis Joplin completaria 60 anos, chega às lojas a coletânea “Essential Janis Joplin” (foto) e estréia o musical “Love, Janis”, supervisionado pela irmã Laura Joplin.
JANIS JOPLIN NO BRASIL – UM ESTRONDO!
Quando veio passar o Carnaval no Rio de Janeiro, para espantar o Blues e dar um tempo na heroína (que, na época, não existia por aqui), Janis Joplin (foto no mar do Rio de Janeiro) estava prestes a lançar sua obra máxima - Pearl, disco lançado postumamente em 1971 (como foi dito acima). Ela morreria oito meses depois de sua passagem pelo Rio, aos 27 anos.
Até se poderia dizer que ela passava por um momento feliz quando posou para as lentes do fotógrafo carioca Ricky Ferreira, em fevereiro de 1970.
Em entrevista à Revista Trip, o fotógrafo Ricky e o cantor Serguei, dois de seus cicerones brasileiros naquela época, revelam a glória e o vexame de uma das maiores cantoras de todos os tempos, que passou praticamente despercebida em território nacional. Fez um obscuro show num inferninho de Copacabana, foi expulsa de um hotel e quase foi presa na praia, incidentes que a levaram a declarar à revista Rolling Stone, depois da viagem: “Se você tem cabelo comprido, te expulsam de um lugar e nunca deixam entrar. Os tiras estupram as pessoas, colocam cães no saco dos caras. O melhor mesmo foram umas noites em que cantei com uns amigos num puteiro”. Com vocês, uma das poucas mulheres que, literalmente, peitaram a ditadura Médici. O fotógrafo Ricky Ferreira hospedou Janis em seu apartamento e foi seu guia por bocadas e baladas cariocas. A seguir ele relembra insólitas histórias regadas a muito Fogo Paulista.
TRIP: Como foi seu encontro com Janis Joplin (foto em Copacabana - RJ)?
RICKY: Cruzei com ela na Avenida Atlântica e a reconheci imediatamente. Aí, fui conversar com ela.
TRIP: Aqui ninguém a reconhecia?
RICKY: Muito pouca gente. Poucos jornalistas e alguns artistas e músicos. Quando a vi, ela estava chorando. Tinha acabado de ser expulsa do Copacabana Palace (por ter nadado nua na piscina). Era Carnaval e não havia hotéis disponíveis, ela não sabia pra onde ir. Convidei-a para vir para minha casa, um quarto-e-sala simples no Leblon. Ela aceitou na hora. Aí, começou um delírio total de drogas, álcool, de tudo...
TRIP: Sexo também?
RICKY: Não. Nunca tive nada com ela. O que queria era agradá-la. Aquela coisa: quer fumo? Vamos arrumar. Mas ela não gostava de maconha, ficava paranóica. O que mais curtia era álcool e heroína.
Cheguei a ir à embaixada americana dizendo que tinha uma pessoa que não se sentia bem e pedi heroína, mas fui expulso pelo médico de plantão. Então arrumamos Mandrix, barbitúrico que ela misturava com álcool. Ela levantava e já tomava uma garrafa de um litro de licor de ovos Dubar, uma coisa grossa e enjoativa. Aí, mandava umas pílulas. Lá pelo meio-dia, entrava no Fogo Paulista (tipo de cachaça industrializada). Daquilo iam garrafas… uns três litros. Depois, íamos à praia, a garrafa junto. Fomos muito à praia da Macumba (Recreio dos Bandeirantes). Em plena ditadura, 1970, ela fazia topless. Não deu outra: saímos da praia presos por atentado ao pudor. Depois, o velho jeitinho brasileiro ajudou a nos liberar.
TRIP: E as baladas carnavalescas?
RICKY: Bom, explode o Carnaval. Quando esteve hospedada no Copacabana Palace, foi convidada para um camarote do Municipal. Ela não colocou fantasia: foi de turbante, óculos redondos, pantalonas, uma camisa cheia de miçangas, colares e pronto, já estava fantasiada (foto no carnaval do Rio de Janeiro). Quando subimos numa passarela que atravessava a Cinelândia, as bichas enlouqueceram: “O que é aquilo? Homem, mulher, bicha ou travesti?”. Naquela época não tinha travesti, e como ela tinha chumaços debaixo do braço, ninguém identificava. Janis achava que estava fazendo um sucesso danado...
TRIP: A imprensa cobriu o baile?
RICKY: Para você sentir o clima, o Jerry Adriani era um dos caras que entrevistavam as celebridades. Fui apresentando a Janis para o Jerry, porque o cara era da Jovem Guarda e não sabia nada de Rock'N'Roll. E ele veio: “Janis, quais foram as suas impressões do Carnaval carioca?” Ele nem sabia quem era. Nem a Globo, nem a Veja, nem ninguém. Chegamos ao camarote: “Estou aqui com a Janis Joplin, que foi convidada”. O cara olhou pelo buraquinho, viu aquela mulher estranha e ouço uma outra voz de lá: “É boa?” E o cara: “Não, é um dragão!”. A outra voz mandou: “Mulher feia aqui não entra!”
Fomos barrados. Janis entendeu tudo, porque maluco não tem barreira de língua, e se ofendeu profundamente. Desceu, comprou uma garrafa de champanhe, bebeu tudo e atirou a garrafa lá em cima, no camarote. A garrafa se espatifou nas pessoas e nós saímos. Ela decepcionada, aos prantos. O Carnaval acabou ali.
TRIP: O que mais rolava no apartamento?
RICKY: Meu apartamento era muito Hippie para a época. Eu tinha uma coleção de espelhos antigos e no meio ficava a cama. Uma vez ela estava de topless conversando comigo e se insinuou num beijo. Na hora, travei e recusei.
Ela deu uma recuada e deitou na cama. Ela gostava muito de comer biscoito Maria com marmeladas, talvez para compensar a falta de glicose da bebida. Aí, ela se levantou e perguntou: “Você está com medo de mim porque sou uma superstar ou o teu negócio é outro?”. Bicho, quando ela falou aquilo, olho no espelho e vejo que tem quatro bolachas com marmelada grudadas nas costas dela. Aí, você me desculpe, não há pau que levante (risos). Hoje escuto as pessoas dizerem que namorei a Janis. Mas isso nunca rolou. Ela era extraordinária, cantava coisas incríveis no chuveiro, tinha os mais diferentes tipos de vozes, uma sensibilidade à flor da pele, uma personalidade engraçadíssima, eu ria o dia inteiro com ela. Um dia, ela morgou, caiu dura e dormiu na areia em Copa. Se queimou inteira nas costas. Voltou para casa um camarão: com uma puta febre, insolação, a pele toda descascando, saindo em pedaços imensos... Ela lotava os cinzeiros de pele (risos).
TRIP: Onde vocês iam à noite?
RICKY: Percorríamos o underground, ela não queria nenhum lugar da moda, careta. Em Copacabana, fomos a uma boate de prostitutas, marinheiros e gringos. Lá ela encontrou o Serguei. Ele estava cantando com uma orquestra cafonérrima e a reconheceu. Parou tudo, declarou “senhoras e senhores, estamos com a maior cantora de todos os tempos”, e a chamou para o palco - uma coisa super fuleira, um lugar horroroso. Então, ela mandou a orquestra parar e cantou “À Capela”. Meu amigo, foi um negócio de arrepiar... tão impressionante que todos os marinheiros, putas e cafetões mandaram drinks para a nossa mesa. Bebemos até cair!
TRIP: Depois disso ela saiu da sua casa?
RICKY: Não, continuou. Meu apartamento quase pegou fogo: ela dormiu com uma vela acesa que lambeu a cortina. Bem, a destruição tinha tomado conta, era comida, cigarro, garrafas, um caos, você pode imaginar. Aí pintou um americano Hippie, ela enfiou na cabeça que queria ir pra Bahia de motocicleta com ele. Mas perdeu a moto no caminho. No meio dessa loucura, tentei organizar um show com ela, mas nunca rolou. Ela desbundou total e não conseguiu cantar nada. A verdade é que ela estava muito mal...
TRIP: Emocionalmente?
RICKY: Ah, ela sabia que era um gênio. Podia estar doidona, mas era consciente de seu papel como artista, sabia que era maravilhosa. Só que tinha um lado depressivo, de auto-estima baixa. Foi super rejeitada em Port Arthur, Texas, onde nasceu, porque só andava com músicos, a maioria negros.
Era frágil, muito angustiada, muito down. Tinha momentos de alegria, ria como menininha, mas era uma pessoa muito sofrida. Agora, imagina essa mulher vir bater no Brasil daquela época! O que devia ser o Brasil pra ela? O que é o Brasil pro americano médio? Cobra na rua, índio de bunda de fora? Imagina, em 1970!
TRIP: Como ela foi embora?
RICKY: Não me lembro, mesmo. Depois, perdi totalmente o contato. Ela foi um cometa que passou. Meses depois, levei um choque ao saber que ela tinha morrido. Aquela voz era única. Quem consegue, hoje em dia, ouvir um disco inteiro da Janis Joplin? Ela é fortíssima, intensa, visceral. Até hoje, Janis é única.
O cantor carioca Serguei Bustamante (foto), 68 anos, lenda viva do Rock’N’Roll brasileiro, conheceu Janis Joplin nos Estados Unidos em 1968. Voltou a encontrá-la naquele verão carioca de 1970. A convite da TRIP, ele narra de um jeito meio psicodélico - e muito emocionado - como foi ouvir Janis sussurrar em seu ouvido:
“A gente se conheceu em Long Island, num festival de Rock num parque, na época em que eu morava nos EUA. Ela chegou em mim e disse: “Você tem muito feeling”. De cara, ficamos amigos. Fui com ela para San Francisco, passei um mês com ela lá. Tivemos uma convivência ótima. Janis tinha mania de tomar suco de laranja, era um ritual, preparava suco toda hora - depois jogava gim. Um dia, ela estava fazendo suco e bateram na porta. Fui ver, era um Black Power esquisito. Pode abrir, ela falou. Foi assim que conheci o Jimi Hendrix. Sei que eles começaram a discutir muito, depois se beijaram - era um outro estilo de vida, tá me entendendo? Dali a uns dois dias fomos à casa de Jimi, em Los Angeles. Sempre fui muito atirado, dançava, rebolava, ficava fazendo assim com a língua. Aí, a Janis veio e falou para eu parar com aquilo de mostrar a língua, senão aquele cabeludo afundado no sofá ia me enfiar um sunshine na boca. O cabeludo era Jim Morrison.
Numa outra festa, no Motel Senegal Boulevard, com Jimi Hendrix, Kris Kristofferson (parceiro de Janis em “Bobby McGee”) Jim pediu para Janis fazer um boquete nele. Ela fingiu que ia fazer, mas preferiu atirar a garrafa de whisky na cabeça dele. Jim nem estrilou: “Vou tirar uma soneca”, disse. Uns dois anos depois, eu caminhava pela calçada em frente ao Copacabana Palace - naquela época a gente podia andar na Avenida Atlântica sem ser assaltado - quando vejo um casal bem diferente: um loiro alto, bonito, interessante e uma mulher com turbante e saia cigana. Puta que pariu! “Janis!”, gritei, e logo nos beijamos na boca.
Nessa época, eu cantava num buraco chamado “New Holliday”, no porão 73 do Leme, Copa. Cantava coisas como “Satisfaction” e “Tropicália”, abria o show da Darlene Glória. Quis levar a Janis lá. O gerente, um português, barrou-a na porta: “Esta mendiga imunda não pode entrar aqui”. Imagine, num bar de putas a Janis foi barrada! Briguei com o português e ela acabou entrando. Alcione estava cantando “Upa neguinho”. A Janis (foto) logo sentou e pediu vodca - sabe, quando você toma metadona dá muita vontade de beber vodca, e ela fazia tratamento com metadona, na época, pra sair fora da heroína. Tinha uma bandinha tocando, subi no palco e falei “com vocês, a maior cantora de todos os tempos”. Pedi para os caras a acompanharem, mas eles não sacavam a música, ficaram nervosos. Então ela soltou a voz e cantou “Ball and Chain”'. Meu Deus (Serguei emociona-se, chora)... O canto dela era sublime! A boate toda se levantou. Alcione gritou desvairada. Tony Tornado, que também se apresentava ali, tremia todo, sem camisa. O português se ajoelhou aos meus pés e pediu: “Puta que pariu! Como fui barrar essa maluca? Dá na minha cara, que eu mereço!”'. Logo em seguida, ela cantou “What I'd say”, do Ray Charles. Foi lindo, a glória, uma loucura total. A boate inteira nos mandava bebida.
(depoimento ao repórter Ronaldo Bressane da Revista Trip).
Entrevista extraída do site: http://revistatrip.uol.com.br/81/janis/01.htm.
PS: As imagens originais desta matéria ficaram por 30 anos nos arquivos de Ricky, e, por uma opção editorial, a Revista Trip decidiu mantê-las exatamente como foram descobertas, sem qualquer restauração química ou digital.
CURIOSIDADES
Janis Joplin (foto) também ficou famosa por ter mantido relacionamentos com pessoas ilustres ou pelo menos "diferentes". Dentre elas estão: um namorado morto no Vietnã, um traficante de São Francisco que chegou a prometer-lhe casamento mas a deixou na mão em 65, o boxeador Joe Namath, Nick Gravenites (que teve muitas composições gravadas por Janis e integrou o Big Brother após a morte da mesma), o roqueiro brasileiro Serguei.
Supõe-se que tenha havido algo entre Janis e o vocalista dos Doors, Jim Morrison, algo muito breve mas significativo. Eles deixaram a entender algo a respeito num incidente no qual Janis quebrou uma garrafa de uísque na cabeça de Jim.
Curiosamente, Janis Joplin (foto) abominava certos tipos “difundidos” de drogas (maconha, LSD e alucinógenos em geral) pois ela dizia que a faziam pensar demais... e ela queria esquecer. Janis era adepta de estimulantes (como anfetaminas, heroína e álcool) que, no fim, foram a causa de sua morte.
Janis Joplin afirmava que sua maior influência era a cantora de blues Bessie Smith, tanto que ajudou a custear, em 1970, uma lápide mais “decente” para ela (a original nem tinha seu nome). O custo foi dividido com o último produtor de Bessie, John Hammond.
Poucas pessoas sabem, mas o Big Brother de Janis Joplin foi a única banda a se apresentar duas vezes no lendário festival de Monterey. Acontece que a primeira apresentação na tarde do dia 17 não foi registrada em vídeo e sequer em áudio devido a problemas técnicos, e devido à performance explosiva da banda os organizadores resolveram encaixá-la novamente no dia seguinte.
Embora Janis Joplin (foto) tenha morrido em decorrência de uma overdose de heroína, seu maior vício era o uísque - mais precisamente o “Southern Comfort”, tanto que, em 1968, a engarrafadora resolve presenteá-la com um casaco de lince (quer propaganda maior que esta?), e promete um certo "patrocínio" à cantora, que no final das contas, acaba não se concretizando.
“Buried Alive In The Blues”, faixa do “Pearl”, último LP gravado por Janis Joplin, não possui vocais, somente a parte instrumental, pois Janis faleceu na véspera da data marcada para a gravação de sua participação. Curiosamente vários "críticos" até hoje se referem a esta faixa como a mais fraca do disco, tratando-se apenas de um “instrumental chocho” (Vão ser burros assim no inferno né galera?).
FRASES
"No palco eu faço amor com 25.000 pessoas, depois vou sozinha para casa."
"Estão me pagando US$ 50.000 por ano para que eu seja como eu sou."
"O amanhã nunca chega, é sempre a mesma porra de dia."
"Sou uma tartaruga escondida em seu casco, bem protegida."
"Eu nunca vou conseguir ser um astro com Dylan ou Hendrix por que eu sempre falo a verdade."
"Se me importo com o que dizem de mim? O pior que podem falar de mim é que nunca estou satisfeita com nada."
"Costumo ter problemas nos bares por causa de minha aparência. Então, ou você fica furiosa e vai embora, ou mostra o dinheiro e obriga os idiotas a engolirem você."
"Nos meus shows, a maioria das garotas estão procurando liberação, e elas pensam que eu vou lhes mostrar como se consegue isso. Mas na primeira fila sempre ficam as grã-fininhas, as comportadinhas, as putinhas reprimidas que ficam esperando todo mundo começar a gritar e dançar para poderem dançar e gritar também. Elas chegam num determinado ponto que eu sei que estão prontas, mas não têm coragem. Então precisam de um pé-na-bunda para se levantarem também. Aí é que eu entro: eu lhes dou esse chute na bunda! eu fui criada exatamente como elas. Sim. Logo, eu sei o que elas têm nessas cabecinhas estúpidas e vazias."
"Às vezes olho para minha própria cara e acho que ela está bem “rodada”. Mas, considerando tudo pelo que já passei, não me acho tão mal assim."
"Tenho medo de acabar me tornando uma dessas velhas bêbadas e roucas que ficam vadiando pela rua da amargura assediando rapazinhos."
"Posso não durar tanto quanto outras cantoras mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã."
"Acho que nunca mais encontrarei um grupo tão bom. Ainda gosto muito deles, como sempre gostei. Acho que nossa separação não foi culpa de ninguém, simplesmente aconteceu. A gente vivia numa atividade contínua desde que a gente explodiu, e eu te digo, isso é muito desgastante. Chegou uma hora que não havia mais sinceridade onde eu cantava."
Janis em 1970, uma de suas últimas entrevistas.
"Eu quero ver como vai ser a música daqui à uns cinco anos. Eu comecei com música rudimentar, mas os jovens de hoje têm uma base musical incrível: eles possuem a liberdade completa que o rock conseguiu! eles cresceram ouvindo Jefferson Airplane, Milles Davis, Grateful Dead, enfim, todo mundo. Ah! Mal posso esperar para ver o que essa garotada vai estar tocando daqui a cinco anos! Só espero estar por lá nesta época. Quero cantar com eles, ou, pelo menos, ter grana para vê-los tocar."
Janis, semanas antes de morrer.
"Eu canto música negra para tirar dinheiro dos brancos."
DISCOGRAFIA
Essential Janis Joplin (2003)
Love, Janis (2001)
Super Hits (2000)
Box of Pearls –The Janis Joplin Collection (1999)
18 Essential Songs (1995)
Cheaper Thrills (1984)
Farwell Songs (1982)
Janis (1975)
Greatest Hits (1973)
In Concert (1972)
Pearl (1970)
I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama! (1969)
Cheap Thrills (1968)
Big Brother And The Holding Company (1967)
Isanamente Janis! Achei que nunca diria isso: mas queria ter sido carioca, só pra ter o privilégio de Ryck Ferreira, imagina cara, ela cantando ali na sua frente, num boteco qualquer?!JG.
CRÉDITOS:
Matéria recortada na integra do site Paraná Online.
Todos os créditos reservados a: http://www.parana-online.com.br/